É prerrogativa peculiar das comunidades humanas viverem racionalmente socializadas. A condescendência da mãe natureza para com o homem e os animais irracionais é notável e gratificante, no entanto só o ser humano é privilegiado com a dádiva da inteligência e paga um preço muito alto porque essa mesma natureza não o poupa diante dos obstáculos como, a fome, epidemias, catástrofes e outras intempéries que assolam o planeta. O homem se sente acuado e se vale de suas habilidades para encarar tenaz e sistematicamente os grandes desafios, ao contrário das outras espécies que instintivamente apenas defendem o seu habitat e lutam pela sobrevivência, obedecendo assim o que impõe a cadeia alimentar. O animal irracional se utiliza da caça para alimentação, justificando o parasitismo. Todavia acaba também sendo vítima de extinção diante da mira de impiedosos caçadores humanos favorecendo a negociação predatória que fortalece o capitalismo selvagem.
Enquanto isso, o homem como agente transformador, é capaz de se recompor genética e anatomicamente quando vitimado pelas condições climáticas e pelas mazelas tais como, doenças, a falta d'água, a peste etc. A sabedoria humana e sua força inventiva proporcionam a exploração e extração de elementos dos reinos animal, mineral e vegetal para o fabrico de medicamentos, vacinas e intrumentos protéticos para suprir as deficiências físicas e as enfermidades, garantindo assim a sobrevivência e a perpetuação da espécie.
Fotografando esse maravilhoso cenário de cumplicidade mútua homem/natureza, surge a necessidade de entronização da cultura. "cultura provém do verbo latino 'colere' , que significa cultivar, acrescentar algo à natureza, colher." (José Auri Cunha, Iniciação à Investigação Filosófica, 1992: pag. 122). Essa relação dicotômica homem/cultura é indispensável pois, só assim serão atendidas as necessidades primárias, secundárias e terciárias.
Uma vez que a cultura é ensinada e aprendida, nada ocorre por processos biológicos e/ou hereditários, e sim, por um processo social. Por exemplo, não podemos classificar a ação da aranha ao confeccionar sua teia engenhosa com o objetivo de capturar seu alimento como uma atividade cultural, pois esse processo é inato e sempre do mesmo jeito. A única ferramenta usada por esse aracnídeo são as glândulas. Jamais ela conseguirá realizar essa façanha utilizando outros métodos e/ou instrumentos. O joão-de-barro, ave da família dos Furnaríidas, trabalha incansavelmente para plasmar o seu ninho, porém é sempre do mesmo jeito. De outra maneira ele não saberia fabricar. As abelhas (Apis mellifica L), constroem suas colméias e não produzem outra coisa senão o mel. No entanto, o homem com sua brilhante e fértil imaginação, se insere sorrateiramente no contexto cultural, aciona sua acuidade mental, habilmente se municia de diversificados equipamentos arquitetados por ele mesmo e constroi sua própria moradia para se proteger do relento e abrigar sua família. Constroi palafitas, arranha-céus, pontes, fabrica o pára-raios etc. Sentindo necessidade de locomoção, doma o cavalo, inventa carroças, charretes, bicicletas, automóves, aviões, naves espaciais, submarinos, locomotivas etc. Ao criar a culinária, suplanta as abelhas; inventa usinas, fabrica o açúcar e, concomitantemente, os mais variados e suculentos tipos de doce, além de um invejável e saboroso cardápio de comidas salgadas e frutos do mar. Dinamizou a pesca e intensificou a agropecuária.
Ao mencionar a cultura no sentido estrito, designamos o viver diversificado de cada sociedade. As diferenças são tantas que chegam até a nos causar estranheza. Na Rússia, por exemplo, é comum a prática do beijo de cumprimento entre os homens. No Brasil, nem pensar! Na Escócia, o uso do kilt (saiote) pelos homens é sinal de elegância. Em Maputo, Moçambique não são as mulheres que são manicuras, e sim os homens.
No setor agrícola o homem tem conseguido várias conquistas ao tentar driblar as enchentes e as secas, implementando projetos de açudagem para regiões semi-áridas, a aragem, a adubação do solo e, em situações mais críticas, como é caso do Nordeste, projeta equipamentos para escavações de poços profundos e cisternas de placa.
Enfim, cada sociedade se adapta à sua cultura na tentativa de encarar a realidade e suprir suas indigências.
Podemos concluir então que cultura é um conjunto de valores materiais e espirituais criados pela humanidade no curso da história. Quando acatamos a idéia de que cultura trata-se de um fenômeno social é porque entendemos que toda e qualquer atividade que intensifique o bem comum é uma atividade cultura.
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