quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Evangelho de Judas Iscariotes

A Profecia: "Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: um virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamará Emanuel" (Is 7,14). Nos relatos dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, textos considerados canônicos (livros de inspiração divina que contêm normas de fé) muitos estudiosos têm-se debruçado na tentativa de elucidar através de investigações mais consistentes o que há de dúvidas sobre a vida de Jesus. Estudos bíblicos recentes vêm submetendo tais textos a uma criteriosa releitura, além da significativa contribuição de modernos recursos da Arqueologia e da Antropologia. Todos esses elementos municiarão, ao longo da História, o que há por trás de pontos e contrapontos que inquietam leigos e até exegéticos. Os paradoxos são notáveis desde as narrativas do nascimento, da sua relação com a sociedade, com os apóstolos, inclusive Judas, e com a própria família que, por uma análise bem minuciosa, detecta-se que não foi muito amistosa. "Quando os seus souberam, saíram para reter; diziam: Ele está fora de si." (Mc 3,21). No que se refere ao nascimento, Mateus declara que quem recebe o aviso é José (1, 20-22), Já em Lucas o anjo anuncia a Maria (1, 31-34). Outro trecho narrado em desacordo é com relação à sua profissão. Em Marcos, é ele o carpinteiro: "De onde lhe vem tudo isso? (...) Não é este o carpinteiro, o filho de Maria?" (6,3-4). Em Mateus, no mesmo episódio, o carpinteiro é José: "Não é ele o filho do carpinteiro?" (13,55). Em Mateus, o menino recém-nascido é visitado por reis magos (2,1). A tradição popular diz que foram reis. Não se sabe. Deveriam ser sábios, astrônomos ou astrólogos. Já em Lucas quem o visita são os pastores (2, 15).
Se levarmos em consideração o enigmático, o obscuro, o que há de misterioso em relação a Jesus, a curiosidade avança ao sabermos que muito mais ele fez perante seus discípulos e que não ficou registrado para a memória perpétua de futuras gerações. "Muitas outras coisas fez Jesus na presença dos seus discípulos, e que se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam." (Jo 30 -31).
Os livros apócrifos não são considerados (pela igreja) inspirados por Deus. Em contrapartida encontram certa autoridade para explicar algumas passagens bíblicas, mesmo acusados de heresia. O impasse continua até com relação aos canônicos, em virtude de terem sido escritos a uma distância de quarenta e setenta anos da morte do Mestre por autores que possivelmente não foram testemunhas de primeira mão, de sua vida. Tudo isso focalizado por um perfil histórico, inquieta os adeptos, mas se a abordagem for teologica, a fé é predominante.
Sobre o Evangelho de Judas, um manuscrito encadernado em couro, de vinte e seis páginas de papiro, escrito em dialeto egípcio copta. Acredita-se que tenha sido copiado por volta do ano 300 d. C. no deserto de El-Miniya. É importante portanto apreciarmos a importância das ações do bispo Irineu de Lyon (130 - 202 d. C.) que escreveu a obra "Contra as Heresias" por volta do ano 180, na qual ele critica a essência do gnosticismo. Os gnósticos acreditavam que o mundo material e o corpo humano tinham sido criados por divindades inferiores e malévolas e achavam que só a busca da sabedoria esotérica ajudaria a libertar alguns poucos eleitos da escravidão do corpo. Uma das doutrinas de uma certa seita de gnósticos adotada por Maomé defende a tese de que Jesus era um simples homem, e que o filho de Deus desceu sobre ele no batismo e o abandonou durante a Paixão.
Não encontramos nenhum relato nos livros canônicos que não refutem as atitudes de Judas. Jesus foi bem claro ao asseverar na última ceia. "Ai daquele por quem será entregue. Melhor fora que tal homem não tivesse nascido." (Mt 26,24). Outros que não foram poupados da concupiscência do pecado foram os superiores de Pilatos no seguinte diálogo: "Não sabes que tenho poder para te soltar e para te crucificar? - e Jesus responde: "Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado. Por isso, quem me entrega a ti tem pecado maior." (Jo 19,10-11).
Judas pertencia a um grupo de fariseus chamado zelotas e a origem do seu nome é muito obscura. Acredita-se que Iscariotes pode siginificar que ele fosse de Kariot (Mt 10,4), foco da ação zelota, ou viria da expressão aramaica Isk kariot, que quer dizer "O homem que leva o punhal". "Judas subordinou a sua liberdade pela volúpia do ter e ter muito." (Francisco Lima, Judas: Inocente ou culpado? Jornal O POVO, 1989: pág. 06).
Com base no Evangelho de Judas, uma produção apócrifa, ele recebeu instruções secretas de Cristo e a ordem para traí-lo. "Mas a todos excederás e sacrificarás o homem que me veste." O teor da frase justifica a essência gnosticista. Para eles era uma indginação considerar que o filho de Deus houvesse nascido, ter sido criança e, sobretudo ter morrido na cruz. Tudo que a acoteceu foi com o homem Jesus e não com o Divino filho de Deus. Seguindo o pensamento de estudiosos do gnosticismo, é a traição que permitirá que Jesus se liberte do seu lado mortal e realize sua missão. Permanecemos então na dissonância dos conteúdos dos textos, porque são sacramentados documentos de contextos divergentes e suceptíveis de fecundos e eternos estudos e questionamentos.

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